sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Febeapá e Tiradentes

Começa o novo martírio de Tiradentes! Um historiador mineiro levantou a questão, dizendo que Tiradentes barbudo e cabeludo era besteira, pois o mártir da Independência era alferes, e portanto, usava cabelo curtinho, como todo militar. O bla-blablá comeu firme e obrigou o Marechal Presidente a se manifestar, assinando um decreto que estabelecia a figura de Tiradentes a ser cultuada, isto é, seria a mesma da estátua do falecido, colocada na frente do Palácio Tiradentes, antiga Câmara Federal, no Rio. Nessa altura já tinha sido distribuído para as escolas um Tiradentes bem mais remoçado, sob protesto de professoras primárias que diziam ser o outro "mais respeitável". Recolheu-se o Tiradentes mocinho, emitiu-se uma nota de Cr$ 5.000, com a forca aparecendo e o "Diário Oficial" publicou a resolução presidencial de se venerar "a efígie que melhor se ajusta à imagem de Joaquim José da Silva Xavier gravada pela tradição na memória do povo brasileiro". Quando todos esperavam que iam deixar Tiradentes sossegado, no "Diário Oficial" seguinte ao da publicação do decreto presidencial, constava uma retificação que ninguém entendeu, dizendo: "Onde se lê Joaquim José, leia-se José Joaquim". Ora, todo mundo sabe que o nome do mártir era Joaquim José, até mesmo aquele samba da Escola de Samba Império Serrano, que venceu um carnaval, mas os que estavam salvando o país tinham dúvidas.
Uma plêiade de altas autoridades esteve reunida para confabular e veio a retificação da retificação, O "Diário Oficial" do dia 27-4-66 publicava: "Fica sem efeito a retificação publicada no 'Diário Oficial' de 19-4-66, na página 4.101". Felizmente a coisa parou aí, do contrário iam acabar escrevendo Xavier com "CH".

Trecho extraído do Festival de Besteiras que Assola o País (Stanislaw Ponte Preta/Sérgio Porto)

FEBEAPÁ (continuação)

ano: 1965
(...)
"Julho começava com a adesão do Banco Central à burrice vigente, baixando uma circular, relativa ao registro de pessoas físicas, na qual explicava: "Os parentes consangüíneos de um dos cônjuges são parentes por afinidade do outro; os parentes por afinidade de um dos cônjuges não são parentes do outro cônjuge; são também parentes por afinidade da pessoa, além dos parentes consangüíneos de seu cônjuge, os cônjuges de seus próprios parentes consangüíneos".
(...)
"O Secretário de Saúde da Guanabara, dr. Ozir Cunha, proibia os hospitais do Estado de atenderem doentes vítimas de alcoolismo. Como é que um médico dá uma ordem dessas ninguém soube. Provavelmente ele estava influenciado pela chatíssima novela do Dr. Valcourt. Aliás, essa novela influenciou muita gente. Tempos depois, quando um grupo de médicos do interior procurou o então candidato exclusivo à Presidência da República — Marechal Costa e Silva — para expor problemas de assistência médica, o candidato disse que sabia do que se passava pois acompanhara a novela. Os médicos se entreolharam, perceberam que não adiantava ir em frente, fizeram pouquinho de hora e se mandaram."
(...)
Trechos extraídos do FEBEAPÁ - Festival de Besteiras que Assola o País - Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

FEBEAPÁ - Recordando...

Para aqueles que, como eu, não viveram os primeiros anos do Festival de Besteiras que Assola o País, resolvi postar aqui alguns trechos da obra de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto). Espero que apreciem...abç.
ano: 1965
"Ainda na faixa do nordeste: um telegrama informava que, para não morrerem de fome, os retirantes nordestinos estavam comendo formiga saúva. Isto bastou para que vários jornais consultassem nutrólogos, tendo eles afirmado que, de fato, a formiga apresentava qualidades nutritivas. Era uma temeridade tal afirmação, pois isto talvez fosse o bastante para que tirassem a formiga da boca do nordestino".
...
"Em Recife, quem tocasse buzina na zona considerada de silêncio, pagava uma multa de Cr$ 200. O deputado estadual Alcides Teixeira sabia disso mas distraiu-se e tocou. Imediatamente apareceu um guarda e multou-o. Alcides deu uma nota de Cr$ 1.000 para pagar os 200 e o guarda informou-o de que não tinha troco. O deputado quebrou o galho: deu mais quatro buzinadas na zona de silêncio, ficou quite com a Justiça e foi embora".
....
"Foi então que estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica "Electra", tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão, mas já falecido em 406 a.C. Era junho e o pensador católico Tristão de Ataíde, o mesmo Alceu de Amoroso lima, uma das personalidades mais festejadas da cultura brasileira, chegava à mesma conclusão da flor dos Ponte Preta em relação à burrice reinante, ao declarar, numa conferência: "A maior inflação nacional é de estupidez."
...

Trechos extraídos do FEBEAPÁ - Festival de Besteiras que Assola o País - Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

I'm Gonna Sit Right Down And Write Myself A Letter (Joe Young)

I'm gonna sit right down and write myself a letter
And make believe it came from you
I'm gonna write words, oh, so sweet
They're gonna knock me off my feet
Kisses on the bottom
I'll be glad I've got 'em

I'm gonna smile and say
"I hope you're feelin' better"
And sign "with love" the way you do
I'm gonna sit right down and write myself a letter
And make believe it came from you

domingo, 25 de janeiro de 2009

até 10...atualizado

Estava sem assunto; estou ainda, mas resolvi atualizar esse espaço, mesmo quase sem leitores. Como sempre, ando fazendo mil coisas e nenhuma ao mesmo tempo. Resolvi mudar de casa e comprar um veículo. Acho que suportei muito tempo, pra falar a verdade. Não é fácil ficar aqui sem a autonomia relativa do transporte individual...
Mas, como eu falei, “mil coisas e nenhuma”... Tudo ficou, até agora, só no campo do planejamento. O bloqueio mental que sempre ronda as decisões que eu tomo resolveu me atacar de forma especial dessa vez. O que mais me irrita é que ele, o meu “eu covarde” é muito competente no que se propõe, que é me sabotar e fazer parecer que eu sou só cauteloso. É, ele faz assim: constrói um monte de questionamentos pseudo-importantes pra tudo aquilo que vou fazer, e os questionamentos são cheios de pré-requisitos, tipo: preciso resolver primeiro isso pra depois saber o que faço com aquilo. Se eu escolher morar ali, vou comprar um carro assim, agora, se eu for morar lá, vou comprar um carro assado. Mas desta vez tomei, por necessidade, uma outra decisão: vou pensar bem depois de fazer... na verdade, já pensei até demais. No final, ao invés de justificar as coisas (outra prática que o “eu covarde” adora), vou só fazer cara de idiota e dizer: pois é, foi vacilo meu...
Perdoem alguns erros de grafia... ainda não tenho saco pra adotar o acordo ortográfico...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CONTRATA-SE

Estava na rua hoje de manhã, quando vi um cartaz: “Contrata-se motoqueiro com perfil de vendedor”. Pensei em algumas combinações também inusitadas e montei esse pequeno texto. Espero que gostem.

CONTRATA-SE

Motoqueiro com perfil de vendedor;
Garçom com “manha” de ilusionista;
Manicure com passado de artista;
Manequim com ombros de remador.

Astronauta com “feeling” de escritor;
Redator com humor de operário;
Jagunço com voz de bibliotecário;
Pai-de-Santo com braço de estivador.

Pipoqueiro com treino de encanador;
Caçador com “vista” de bordadeira;
Alfaiate com cheiro de quitandeira;
Costureira com alma de pescador.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Rendas Pretas Defunteiras

Assim, feito no Paredão. Mas a água só é limpa é nas cabeceiras. O mal ou o bem, estão é em quem faz; não é no efeito que dão. O senhor ouvindo seguinte. Me entende. O Paredão existe lá, Senhor vá, senhor veja. É um arraial. Hoje ninguém mora mais. As casas vazias. Tem até sobrado. Deu capim no telhado da igreja, a gente escuta a qualquer entrar o borbolo rasgado dos morcegos. Bicho que guarda muitos frios no corpo. Boi vem do campo, se esfrega naquelas paredes. Deitam. Malham. De noitinha, os morcegos pegam a recobrir os bois com lencinhos pretos. Rendas pretas defunteiras. Quando se dá um tiro, os cachorros latem, forte tempo. Em roda a parte é desse jeito. Mas aqueles cachorros hoje são do mato, têm de caçar seu de-comer. Cachorros que já lamberam muito sangue. Mesmo, o espaço é tão calado, que ali passa o sussurro de meia-noite às nove horas. Escutei um barulho. Tocha de carnaúba estava alumiando. Não tinha ninguém restado. Só vi um papagaio manso falante, que esbagaçava com o bico algum trem. Esse, vez em quando, para dormir ali voltava? E eu não revi Diadorim. Aquele arraial tem um arruado só: é a rua da guerra... O demônio na rua, no meio do redemunho... O senhor não me pergunte nada. Coisas dessas não se perguntam bem.
Grande Sertão: Veredas